O Presunçoso
Zé Cantadinha é ''figurinha carimbada'' nos bares e gafieiras da Lapa. Muito bem apessoado, 40 anos, alto e moreno. Não podia ver mulher bonita que logo se aproximava para uma conversinha ao pé do ouvido. Um verdadeiro Don Juan.
Mês passado teve de fazer uma viagem para o interior do Mato Grosso a fim de receber uma herança de seu tio Paulinho Fuinha.
Era uma viagem de 4 horas com duas escalas em um ATR-72 (aquela avião de asas altas turbo hélice de 78 lugares, com poltronas duplas na esquerda e na direita da cabine).
Entrou na aeronave e se acomodou na 20B (corredor). Ficou preocupado porque as poltronas eram estreitas. ''E se viesse um daqueles fazendeiros de 120Kg que iriam ocupar a poltrona da janela e mais a metade da minha com um bundão grande? Serão 4 horas de tragédia", pensou.
Ficou aguardando o embarque dos outros passageiros e a cada gordo que entrava fazia disfarçadamente o sinal da cruz e dizia baixinho ''aqui não, aqui não''.
E eis que chega quem vai ocupar a cadeira 20A. Um monumento, verdadeira obra prima da natureza. Alta, loira, exuberante.
Zé Cantadinha levantou para dar passagem e fez um raio x completo daquela venus. ''Deus é grande'' falou consigo mesmo. ''Bem que essas poltronas podiam ser mais apertadinhas''.
A moça sentou, colocou o sinto, abriu a bolsa e sacou um livro que parecia mais um tijolo de 6 furos de tão grosso.
Abriu na página marcada e reiniciou sua leitura. Não deu a mínima para as instruções de segurança da aeromoça. Também não deu nem uma olhadinha para a maravilhosa paisagem da baia da Guanabara quando levantaram vôo.
Primeira escala uma hora e meia depois e a moça lá, grudada no livro.
Zé já estava incomodado. Achou que iria ser uma viagem de conversas agradáveis e divertidas. Não resistiu. Bateu no ombro do monumento de seus sonhos e perguntou:
- Com licença senhorita, nós já estamos viajando a mais duas horas e você continua absorta, totalmente envolvida na leitura. Dever ser um romance muito interessante. Qual é o tema?
Ela olha para ele com seus olhos azuis brilhantes e responde:
- Não é um romance, é um livro de antropologia que estou anotando algumas passagens para a minha pesquisa.
-Pesquisa? Que interessante. E sobre o que é sua pesquisa?
- É sobre a atração que as mulheres sentem por árabes e índios.
- Árabes e Índios? Como assim?
- As mulheres se sentem atraídas pelos árabes porque eles são românticos, carinhosos, atenciosos e adoram dar presentes para suas parceiras. E pelos índios porque eles tem um falo grande que pode leva-las a um prazer extremo na relação sexual.
- Então, elas gostam dos árabes porque eles são românticos, carinhosos e adoram dar mimos caros como casas, iates, joias e carros importados. E pelos índios porque eles tem um pau grande e podem proporcionar orgasmos múltiplos. É isso?
- Sim, mas por que esse seu interesse pela minha pesquisa? Quem é o senhor?
Zé Cantadinha abre seu melhor sorriso 32.2 e se apresenta.
- Meu nome é MUHAMMAD TAPAJÓ, a sua inteira disposição.